O PRODUTO DO PROCESSO EM PROCESSO
O projeto que enviamos e foi aprovado pela Funarte se refere a publicação de um livro e a edição de um documentário. Nestas e nas próximas postagens divulgaremos por onde pretendemos ir para construir esta nova etapa do trabalho. Vamos lá...
Publicar 500 exemplares de um livro de imagens e textos, é a proposta. Acompanhará o livro, na forma de encarte, um documentário realizado em HDV. A proposta é editar um livro com papel adequado à impressão de fotos, boa encadernação, uma programação visual atraente e uma diagramação criativa e bem cuidada, onde conteúdo e forma se complementem.
A idéia é que a publicação seja dividida em duas partes sem hierarquias, uma mais analítica e outra mais poética. A montagem será feita de tal forma que se poderá iniciar a leitura pela parte poética ou pela parte analítica. Caso a leitura seja iniciada pela parte mais analítica ela termina na parte mais poética e vice versa. Não há contra capas, somente capas. Mesmo na parte que se pretende mais analítica se terá a preocupação de não elaborar textos demasiadamente complicados, de difícil compreensão e que dificultam a apreciação de um público mais amplo, não acostumado com os discursos muitas vezes herméticos da academia
Os textos do livro fundamentalmente visam, por um lado, analisar como e porque jovens de classe média urbana de Londrina, importante cidade no sul do país, usam elementos das artes tradicionais do nordeste nos seus processos de produção artística e, por outro lado, buscam identificar e analisar as percepções de mestres da cultura popular do Maranhão e de Pernambuco sobre o uso de sua cultura na criação artística de outros segmentos sócio-culturais.
Abaixo segue aprimeira versão do programa do livro
Primeira parte (Mais analítica)
Obs.: as versões aqui apresentadas ainda têm um estilo muito acadêmico. As versões finais terão textos mais fluidos, informais, para que possam ser apreciados pelo público em geral. Como programa/roteiro estes textos somente explicitam as bases teóricas que serão usadas e as questões centrais, que a princípio serão abordadas. Não são textos conclusivos.
1 – Introdução
2 - Porque apoiar as artes de matriz tradicional
3 - Diálogos de jovens artistas com as artes tradicionais
3.1 - Percepções sobre o papel do Estado em relação às artes tradicionais
3.2 - Formas de legitimação na relação entre campos artísticos
3.3 - Processos de trocas e idéias de autenticidade
4 – Conclusões
5 - Referencias
Segunda parte (Mais poética)
A segunda parte será composta de fotografias, desenhos e textos mais poéticos. Os textos terão como base as impressões cotidianas dos três investigadores durantes as viagens para o trabalho de campo, podendo variar entre pequenas crônicas e poemas.
A seguir apresentamos as versões provisórias da introdução, do primeiro texto e os roteiros dos demais textos da primeira parte (exceto as conclusões) e as referências até aqui consultadas.
Nas próximas postagens detalharemos melhor a proposta dos textos para o livro.
Um abraço,
Piau
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
IDÉIAS E DESEJOS SE ESPRAIANDO
QUEDANDO GRANDE
No começo previ duas pessoas para a minha pesquisa de campo do doutorado, eu e a Bruna Muriel, socióloga e pessoinha muy querida, que acompanha minha trajetória já há algum tempo. Os dois coletariam dados de arquivos e desenvolveriam uma pesquisa qualitativa com dirigentes das organizações e com mestres com relevância nas manifestações artísticas de tradição oral vinculadas aos Pontos de Cultura selecionados. Queria visitar, ver de perto o trabalho dos Pontos de Cultura em várias partes do Brasil.
Com a impossibilidade da Bruna de participar da empreitada a Camila Pierobom, também socióloga e pessoinha querida, companheira de longa data, aceitou, com entusiasmo, o convite.
A próxima personagem, que quase veio, apareceu por obra do acaso. Num dia em que não agüentava mais ficar em casa de frente para o computador, resolvi dar um pulo ao parque da Ciudadela, em Barcelona, para ver o sol, ler e fazer amigos.
Lógico que levei o pandeiro.
Como chamariz para fisgar um/a futura/o amigo/a e para esticar o couro, coloquei o do barulho ritmado para tomar um bronze. Platinelas brilhando! Não há de ver que aparece uma jovem simpática e pede para tocar? Maira. Engatamos uma prosa sobre arte, cultura popular, documentários e viagens. A participação para correr o trecho começou a aumentar. A partir das várias conversas com Maira - pessoinha querida - uma questão começou a fazer mais sentido, por que não aproveitar a viagem e fazer algumas coisas a mais, aproveitar os recursos para fazer vídeos documentários, ensaios fotográficos...
Mas, precisávamos de alguém bom de vídeo. Várias tentativas (inclusive com Lucas Kiler) e ninguém disponível para fazer uma viagem de oito meses pelo Brasil, sem receber salário. Resolvemos que, principalmente a Maira, iria aprender a trabalhar bem com vídeo.
Ainda em Barcelona, comecei a ajudar a Fiorela Bugatti, pessoinha querida, no seu projeto de mestrado em Gestão do Patrimônio. Ela queria fazer o trabalho de campo no Brasil. Num sábado, depois de um dia cheio de emoções em Vila Franca (Catalunha – ES) ela foi impulsivamente convidada para se juntar à trupe. No domingo aceitou, na segunda pediu demissão e comprou passagem e logo depois estava no Brasil.
Novembro e parte de dezembro de 2008, em Londrina: planejamento, montagem da infra, cursos de documentários e de curtas, apreensão, orçamento e burocracias. Quase no dia da primeira partida, a Maira teve problemas e disse que não podia continuar. De novo sem alguém mais entendedor em vídeo. Nova tentativa com Lucas Kiler (ah, pessoinha querida), quase uma intimação misturada com um muito de chantagem emocional e um pouquinho de argumentos racionais. Foi o suficiente, ele cedeu à lógica da desbravação do imaginário.
Equipe de pessoinhas queridas completa!
Só faltava o meio de locomoção: a Doblò (carrinho querido), mas isso é outra história.
No começo previ duas pessoas para a minha pesquisa de campo do doutorado, eu e a Bruna Muriel, socióloga e pessoinha muy querida, que acompanha minha trajetória já há algum tempo. Os dois coletariam dados de arquivos e desenvolveriam uma pesquisa qualitativa com dirigentes das organizações e com mestres com relevância nas manifestações artísticas de tradição oral vinculadas aos Pontos de Cultura selecionados. Queria visitar, ver de perto o trabalho dos Pontos de Cultura em várias partes do Brasil.
Com a impossibilidade da Bruna de participar da empreitada a Camila Pierobom, também socióloga e pessoinha querida, companheira de longa data, aceitou, com entusiasmo, o convite.
A próxima personagem, que quase veio, apareceu por obra do acaso. Num dia em que não agüentava mais ficar em casa de frente para o computador, resolvi dar um pulo ao parque da Ciudadela, em Barcelona, para ver o sol, ler e fazer amigos.
Lógico que levei o pandeiro.
Como chamariz para fisgar um/a futura/o amigo/a e para esticar o couro, coloquei o do barulho ritmado para tomar um bronze. Platinelas brilhando! Não há de ver que aparece uma jovem simpática e pede para tocar? Maira. Engatamos uma prosa sobre arte, cultura popular, documentários e viagens. A participação para correr o trecho começou a aumentar. A partir das várias conversas com Maira - pessoinha querida - uma questão começou a fazer mais sentido, por que não aproveitar a viagem e fazer algumas coisas a mais, aproveitar os recursos para fazer vídeos documentários, ensaios fotográficos...
Mas, precisávamos de alguém bom de vídeo. Várias tentativas (inclusive com Lucas Kiler) e ninguém disponível para fazer uma viagem de oito meses pelo Brasil, sem receber salário. Resolvemos que, principalmente a Maira, iria aprender a trabalhar bem com vídeo.
Ainda em Barcelona, comecei a ajudar a Fiorela Bugatti, pessoinha querida, no seu projeto de mestrado em Gestão do Patrimônio. Ela queria fazer o trabalho de campo no Brasil. Num sábado, depois de um dia cheio de emoções em Vila Franca (Catalunha – ES) ela foi impulsivamente convidada para se juntar à trupe. No domingo aceitou, na segunda pediu demissão e comprou passagem e logo depois estava no Brasil.
Novembro e parte de dezembro de 2008, em Londrina: planejamento, montagem da infra, cursos de documentários e de curtas, apreensão, orçamento e burocracias. Quase no dia da primeira partida, a Maira teve problemas e disse que não podia continuar. De novo sem alguém mais entendedor em vídeo. Nova tentativa com Lucas Kiler (ah, pessoinha querida), quase uma intimação misturada com um muito de chantagem emocional e um pouquinho de argumentos racionais. Foi o suficiente, ele cedeu à lógica da desbravação do imaginário.
Equipe de pessoinhas queridas completa!
Só faltava o meio de locomoção: a Doblò (carrinho querido), mas isso é outra história.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
BOBO
"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo."
Clarice Lispector
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